Entrevista a Daniela Lopes

DESIGN

Daniela Lopes é uma designer autodidata, residente na ilha Terceira, Açores. Tem um atelier de confeção aberto ao público desde 2016, STUDIO. Uma das suas ambições é atualizar o bordado tradicional açoriano criando peças que possam integrar-se na vida quotidiana das pessoas.

Como surgiu o projeto STUDIO DLD que criou e a ideia de utilizar o bordado?

O STUDIO surgiu na sequência do trabalho que tenho desenvolvido desde 2004 na área do design e da confeção. No ano passado, surgiu a oportunidade de abrir um espaço em Angra do Heroísmo, na Ilha Terceira que foi feito de raiz por nós. A ideia é de expor artigos diferenciados para o público porque também gosto de fazer outro tipo de coisas.

Já há algum tempo que tenho a intenção de incorporar os bordados nas peças e agora, com as infra-estruturas que foram criadas e com a empresa que foi montada, tornou-se, também, mais fácil pedir apoios. Este projeto que estou a desenvolver agora, Legacy– uma pequena coleção de oito peças- é apoiado pelo CRAA [Centro Regional de Apoio ao Artesanato].

No entanto, eu já trabalhava desde 2004, data em que fiz o meu primeiro desfile e tenho atelier aberto desde 2010.

Já tinha feito um design para um concurso para uma marcha que já envolvia bordados e, agora, com o STUDIO, quero aperfeiçoar. Já fiz um vestido de noiva, fiz as t-shirts e tenho agora este projeto para desenvolver.

Os bordados surgiram porque eu acho que têm uma riqueza enorme e devem ser trazidos para quotidiano para não morrerem. As pessoas utilizam muitos bordados açorianos em ocasiões festivas muito raras, como para vestidos de batizado, mas não para peças do quotidiano ou de festa. Portanto, eu acho que podem ser reatualizados, aplicados em novos tecidos, com novas cores e novos modelos. A ideia é essa: divulgar e não deixar morrer os bordados. É trazer o que é nosso para a contemporaneidade e também fazer o que gosto, estar em linha com o que tenho vindo a fazer até agora.

Como fez a sua formação?

Sempre gostei da parte de costura e desenho e fui aprendendo. Comecei na máquina da minha avó – era daquelas de pedal – ela também fazia costura e a minha bisavó era costureira também; fui desenvolvendo o gosto, aperfeiçoando. A boa receção das pessoas também me incentivou.

Portanto, o seu STUDIO está sediado em Angra do Heroísmo, na Ilha Terceira…Pode falar-me do projeto, apoiado pelo CRAA, relativo às oito peças que está a fazer?

É uma coleção de oito peças que tem o bordado como base. Eu crio os desenhos que quero no bordado e este é entregue à  Casa de Bordados  dos Açores, que fica no Faial, e executado pelas suas bordadeiras. Depois é aplicado.

São vestidos compridos, mais de festa, vestido de noiva, de várias cores e depois a ideia também é fazer uma sessão fotográfica. O objetivo deste projeto é fazer a exposição, um catálogo com o fotógrafo Luís Godinho, que vai fotografar e vai inserir em espaços da ilha que tenham o potencial um pouco diferente dos catálogos comerciais.

 Na fábrica do Faial os bordados são feitos artesanalmente?

Sim, eles têm o processo deles lá, fazem a estampagem e depois levam às bordadeiras que, nas suas casas, fazem os bordados para eles. São coisas que podem levar dois a três meses, conforme o que é para fazer. Agora vou desenvolver os desenhos e depois são trabalhados.

Podemos falar sobre a situação aí, no Faial, das fábricas dos bordados, estão em extinção?

Esta já existe há algum tempo. Sei que há mais, mas não conheço. Sei que continuam no ativo e têm trabalho. É o Sr. João Pereira, da Casa de Bordados dos Açores, os meus bordados são lá executados.

Como tem sido a aceitação das suas peças?

O meu trabalho tem vindo a crescer gradualmente, e já trabalho há algum tempo. O trabalho tem sido bem aceite. Tenho mantido e adquirido novos clientes – o que é um bom sinal. Também trabalho na parte da confeção. Procuro ir de encontro do cliente. Não tenho propriamente uma coleção de 50 peças à venda, tenho uma mostra do meu trabalho que uso em coleções e desfiles e depois crio especialmente para o meu cliente e, portanto, tem corrido bem, tem havido aceitação. As pessoas conhecem o meu trabalho e gostam e espero que agora… a loja está aberta à sensivelmente um ano. É muito diferente ter um espaço físico aberto – um atelier, com sala de prova, com máquina, com tudo, é diferente – muitas vezes as pessoas ouvem falar mas depois não sabem onde está, e quando estamos num espaço especialmente dedicado a isso…dizem “não sabia que estava aqui”. Portanto, ainda vai um pouco de boca a boca, a parte da publicidade. Depois a nível dos bordados, o vestido de noiva que fiz teve um feedback fantástico com a fotografia que publicitei no facebook e acho que esta nova coleção também irá ter um excelente feedback. A minha ideia depois é também apresentar as fotografias a uma revista de moda de turismo, tentar integrar em alguma revista da SATA, trazer uma divulgação para o exterior para que também seja conhecido fora dos Açores.

Quais são as suas influências no design?

Posso dizer que o meu estilo não é muito exuberante e muito radical, acho que é um estilo sóbrio. Ao nível de estilistas sempre gostei muito de Dior, Chanel, destes estilistas mais clássicos que foram os grandes impulsionadores da moda. Gosto muito daquele tipo de saias Dior, da silhueta, e, portanto, a nível nacional, gosto muito de Nuno Baltasar. Eu não tento copiar nada, como é lógico, mas claro que é sempre bom ver o que se passa e ver como as coisas são feitas, mas normalmente vem dos clientes. Quando crio uma peça para os clientes tenho que ter em conta a sua fisionomia e de pois o que ele gosta. E depois, dentro deste estilo, acho que sou muito feminina no que crio e gosto de pormenores, gosto de folhos, laços, brilhantes, pedras, gosto desse tipo de cortes, o corpo e acho que o meu estilo vai um pouco por aí…

Não faz só peças por encomenda…

Essas t-shirts foram o nosso primeiro passo para esse trabalho dos bordados. As t-shirts não foram feitas por mim, foram feitas na fábrica e depois os bordados foram aplicados à mão, foram aplicados alguns pormenores.

Portanto, no seu STUDIO DLD as peças que tem são todas peças únicas.

 Exatamente, são peças que estão à venda no STUDIO são criadas e confecionadas por mim. Nessa parte das t-shirts tentámos ter uma vertente mais … e agora vou desenvolver uma linha um pouco mais económica e mais comercial – tendo em vista o turista. Foi uma experiência e, portanto, tratámos da escolha das cores, dos tamanhos e dos materiais e mandámos imprimir o logo do STUDIO; depois aplicámos os bordados que mandámos fazer na Casa dos Bordados.

Quantas pessoas trabalham no STUDIO DLD?

Sou só eu. Na altura de mais trabalho – costumo também trabalhar e fazer as marchas e assim costumo ter uma costureira e a minha mãe às vezes também dá uma mãozinha.

E os seus principais clientes são dos Açores, ou são sobretudo turistas?

São pessoas da ilha. Vou agora fazer um vestido de noiva para São Miguel. Na feira em que estive no CRAA, em novembro, trouxe a uma cliente um vestido de noiva para este ano. Os meus clientes são pessoas que gostam de coisas diferentes, querem coisas que não encontram no mercado, procura um produto feito à medida…

Com uma mais-valia… Tem o certificado dos Açores?

Sim, a costura é considerada artesanato e eu tenho a Carteira de Artesã e a empresa tem a Carteira de Unidade de Produção Artesanal… (a integração do bordado é uma forma de a Casa dos Bordados e as bordadeiras não morrerem)…este projeto das oito peças chama-se Legacy. O CRAA apoia os artesãos e eu submeti esta coleção no projeto e foi aprovado. Nem sabia que eles apoiavam estes projetos e quando submeti foi quase fora de prazo.

Para este projeto, tem a produção preparada, já sabe o que vai fazer porque tem os desenhos, certo?

Exatamente.